Saúde infantil & Hipnose. Como tudo funciona.

A partir de que idade é que as técnicas de hipnose clínica podem ser aplicadas?
A prática de hipnose clínica, aplicada como terapia de programação mental para crianças é normalmente aconselhável só a partir dos 6/8 anos, mediante o desenvolvimento linguístico e cognitivo da criança, no entanto, existem técnicas básicas que são aplicáveis a bebés de 3 meses, através de sons suaves e relaxantes.

Em que patologias a hipnose clínica poderá ajudar crianças e adolescentes?
Crianças e adolescentes recorrem à hipnose clínica, principalmente, para resolver questões ligadas a dificuldades na escola, tais como, défice de atenção e concentração.
Outras razões passam pela hiperactividade, por alterações comportamentais e de humor; depressão infantil; síndrome de abandono; tendência obsessiva-compulsiva alimentar; gaguez, crianças vitimas de maus tratos e abusos sexuais.
No caso dos adolescentes, encontramos situações do foro sexual, depressão, dependências químicas, preparação para exames, fobias e particularmente, para o medo de falar em público.

Como mãe/pai, como e onde posso obter informações sobre hipnose clínica para que possa tomar uma decisão mais esclarecida, relativamente a recorrer a esta terapia?
Para fazer da hipnose uma escolha eficiente, os pais devem falar com o hipnólogo e verificar as suas qualificações.Devem ser pedidas recomendações e testemunhos a outros pais, solicitar uma recomendação através de um psiquiatra ou psicólogo com conhecimento fundamentado do que é hipnose clínica. Lamentavelmente a especialidade em Portugal não está regulamentada.

Os pais podem estar presentes durante a sessão?
Os pais acompanham a criança ou o adolescente e explanam os seus medos em relação ao jovem, depois o tratamento é feito individualmente, sem a presença dos pais, procedimento igual ao de uma consulta de psicologia.
No caso da criança ter entre 5 e os 10 anos deverá escolher um dos progenitores para o acompanhar durante a terapia. A criança faz tratamento no colo do progenitor e o mesmo acompanha física e mentalmente as sugestões dadas à criança. Este procedimento acontece apenas na primeira vez e é uma estratégia para estabelecer rapport com a criança, dando-lhe confiança no processo. Por vezes, posteriormente, muito até agradecem que os pais saiam.

Como vai agir o hipnólogo com a criança? Vai deitá-la, vai adormecê-la? Vai tocar-lhe?
Um exemplo de sessão, segundo as palavras da Drª Cristina Borges refere que “Normalmente digo-lhes que sou uma construtora de sonhos. Digo-lhe que se devem colocar numa posição muito confortável, fechar os olhinhos e apenas ouvir com muita atenção o que lhes vou dizer (….) vou-lhes construir um sonho bom, com fadas e super-heróis mágicos, devendo a criança imaginar tudo o que eu disser.” Tendo em conta, a capacidade de dissociação possuída pelas crianças, fecharem os olhos, pode ser facultativo.
A criança e os pais são informados que ninguém lhe vai tocar pois tomar esse tipo de procedimento com uma criança, pode ser traumático.
No caso de existir alguma insegurança por parte dos pais, a sessão pode ser gravada, desde que isso não invada a privacidade da criança.

Se a criança tiver acompanhamento psicológico e/ou psiquiátrico, como conciliar com a hipnose clínica?
É fundamental que a criança esteja a ser acompanhada por um psicólogo mesmo depois desta ter contacto com a hipnose. A hipnose tem como função principal desligar ou reprogramar uma situação traumática, ou seja, retirar-lhe a emoção à situação. Ao não existir emoção relativamente a algo, a criança não fica agarrado a um facto, uma má interpretação e consegue levar a sua vida para a frente sem que a situação traumática lhe crie transtornos, medo ou ansiedades futuras e irá conseguir viver livremente, encarando a vida através de outra perspectiva. Metaforicamente, o hipnólogo tem a função de “limpar o disco”.

Quem o acompanha semanalmente é o psicólogo e/ou o psiquiatra, pois as funções da hipnose clínica, são um complemento e não uma substituição. O hipnólogo não pode, nem tem, conhecimentos técnicos para avaliar a medicação recomendada pelo psiquiatra, nem cabe ao hipnólogo fazer o acompanhamento da criança.
Em hipnose deverá deixar-se a terapia fazer efeito, dando tempo para que o sujeito viva a sua vida e veja as alterações que ocorreram depois do tratamento. Enquanto que a psicologia coloca a criança a reflectir e/ou a questionar-se, a hipnose clínica programa a mente e isso é algo que não é possível fazer todas as semanas ou de quinze em quinze dias.

Os pais também são envolvidos na terapia? De que forma?
Sim, o papel e empenho dos pais é fundamental para o sucesso da terapia. Aos pais fornecemos formação específica, através de workshops para que possam aprender algumas técnicas e fazer aos seus filhos relaxamentos básicos de fortalecimento da terapia.
Responsabilizar os pais é fundamental para a gestão da mudança e consciencialização das novas “regras” linguísticas, afectivas e ambientais que poderão ter de ser adoptadas.

Os pais recorrem mais à hipnose clínica em que tipo de situações?
Face ao mau esclarecimento da população em geral acerca da hipnose, normalmente um progenitor que chega a um consultório de hipnose, vê a hipnose como o último recurso, pois  antes de vir ao hipnólogo, os pais já foram ao psiquiatra e/ou ao psicólogo e as crianças já fazem terapia há algum tempo.

Quantas sessões são necessárias? Depende da patologia? Depende dos objectivos?
Dependendo dos objectivos ou da patologia, as crianças fazem três a quatro sessões. Quando o objectivo, por exemplo, é melhorar o desempenho escolar – após o tratamento inicial – os jovens só regressam para fazer reforço de terapia nas semanas que antecedem os testes ou exames.

No caso dos adolescentes, os objectivos dos pais são os mesmos dos filhos? Quando não são, como age o hipnólogo clínico?
Aparentemente são. À primeira vista o adolescente identifica os objectivos em consonância com os objectivos dos progenitores devido à “castração” e represálias dos mesmos, nos diversos contextos. No entanto, deverá definir-se muito bem os seus objectivos, qual a importância e as suas finalidades. Por outro lado, os objectivos trabalhados têm de ser definidos pelo próprio e não pelos pais.
Dando como um exemplo, o facto dos pais quererem que o jovem seja mais arrumado e para ele isso não é minimamente importante, logo, dificilmente o inconsciente aceita definitivamente e no imediato, a sugestão de ser mais arrumado. O adolescente tem de entender qual é o ganho primário e secundário para adoptar tal comportamento – um ganho primário seria a mãe não passar a vida a gritar com ele para arrumar o quarto, o ganho secundário, seria ter um ambiente mais harmonioso e ter tempo para fazer outras coisas, sem ser interrompido.

As grávidas também podem recorrer à hipnose clínica? Se sim, em que casos? Quais os benefícios para o bebé?
Sim, as grávidas podem recorrer à hipnose clínica como preparação pré e pós-parto. Durante a gravidez a futura mãe pode utilizar as técnicas de hipnose, fundamentalmente, como técnica de relaxamento, algo que vai proporcionar sensações de bem-estar, felicidade, alegria, contentamento e paz ao bebé.
Como é sabido, a partir dos 3 meses de gestação, o bebé capta toda a informação do mundo exterior através das sensações físicas e psicológicas da mãe.
Grávidas seguras de si, felizes e com uma boa “higiene mental” vão produzir sensações boas aos seus bebés.
A hipnose pode ter um papel na preparação do parto, através das técnicas de gestão da dor. Uma grávida com o auxílio da hipnose consegue um parto sem dor, sem o uso de anestesia geral ou anestesia epidural.